quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Contactos para marcação de espectáculos



Agora que estamos perto de estrear "CLARIBOMBO", a nossa segunda produção, deixamos aqui os contactos para informações e marcações de espectáculos.

Telefone: 91 494 39 10

domingo, 23 de setembro de 2007

O Casting


Conheci o Pedro Alpiarça num casting para um anúncio de uma seguradora.
Não me lembro do dia ou ano.
Nunca me esqueci do casting.
Esse casting deveria ser, tal como quase todos, feito individualmente, mas por sugestão do Pedro, eu, ele e o Duarte Barrilaro Ruas, fizemos juntos.
Deveríamos interpretar um tipo que ia num carro que se ia auto-destruindo.
Alterámos a história e afinal iam três tipos,
Alternámos de lugar no carro, e todos conduzimos, todos fomos no lugar do morto e todos fomos de pendura.
Quem dirigia o casting, ficou o tempo que quisemos, e não parou de rir.
Mas não ficámos com o papel.
Nenhum de nós ficou.
Ficou um modelo, que (desculpem-me os modelos) com a sua cara laroca, fez um anúncio sem piada e que não ficou na memória de ninguém.
Ficou na minha porque foi nesse casting que conheci o Pedro.
Quando o encontrei uns dias depois, rimos com o que tínhamos feito e começámos a imaginar uma serie para a televisão baseada naquelas personagens do carro.
Nunca o chegámos a fazer, aliás foi a única vez que contracenei com ele.
Mas sempre que nos encontrámos ele falava disso, nunca se esqueceu.
Tal como nunca esquecia ninguém que se cruzava com ele.
Posso dizer que ganhei um amigo desde esse dia.
Apesar de não nos vermos o quanto eu gostaria, pensava nele e falava dele com admiração, de colega e amigo.
Uns anos mais tarde encontrei-o numa serie da RTP onde ele pertencia ao elenco fixo e eu fui convidado para um papel pontual.
Apresentou-me a toda a equipa e não descansou enquanto eu não fiquei completamente à vontade.
Enquanto eu estive nos Papa-Léguas convidei-o para vários espectáculos, mas nunca foi possível ele aceitar por já estar com outros projectos.
Falámos várias vezes, ou ao telefone ou quando nos encontrávamos, e vinha sempre à baila a serie que gostaríamos de fazer os dois.
A última vez que o vi, há menos de um ano, foi em Setúbal no TAS, onde ele se tinha ido encontrar com o Carlos Curto.
Achei-o diferente das outras vezes, mas não fui capaz de lhe dizer nada.
Se fosse ao contrário talvez ele tivesse dito.
Despedi-me dele como das outras vezes, feliz por o ter visto e partilhado da sua generosidade, amizade e grandeza.
Nunca mais o vi.
Nem cheguei a contracenar com ele, excepto naquele casting.
Uma pequena e enorme contracena.
Vou sempre recordar-lo com amizade e admiração
Nunca me esquecerei daquele casting.
Nuno machado

sábado, 22 de setembro de 2007

Para ti Pedro


"Construção" - Chico Buarque
"Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímidoSubiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho seu como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo

Bebeu e soluçou como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir,

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir

Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir

Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir

E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,

Deus lhe pague"



"Pedro Alpiarça (n. 1958 f. 2007)

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Até Amanhã Camarada



PRANTO PELO DIA DE HOJE

Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
tão sábias tão subtis e tão peritas
que nem podem sequer ser bem descritas
"Pedro Alpiarça (n. 1958 f. 2007), actor português. Inicia-se no teatro universitário da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em cujo grupo teatral começa a trabalhar, entre 1984 e 1990. Integra o Teatro A Barraca (1989-1994) sob a direcção de Hélder Costa, em peças como Liberdade em Bremen de Rainer Werner Fassbinder, O Avarento de Moliére, Floresta de Enganos de Gil Vicente ou A Cantora Careca de Ionesco e com Maria do Céu Guerra em O Último Baile do Império de Josué Montello, entre outros. Passou ainda pelas companhias Teatro Veredas (onde trabalhou com Adriano Luz), O Nariz - Teatro de Grupo e Teatroesfera, onde encenou o espectáculo O Erro Humano (1999). É co-fundador do Teatro Mínimo (2002), onde tem desenvolvido trabalho juntamente com José Boavida.Actor regular na televisão, tem integrado o elenco de variadas séries e sitcoms (1993 - Ideias com História, 1995 - Nico D'Obra, 1998 - Os Malucos do Riso, 1999 - Não És Homem Não És Nada, 2001 - Fábrica das Anedotas, 2004 - Os Batanetes, 2005 - Maré Alta e O Prédio do Vasco). Estreou-se no cinema em Glória de Manuela Viegas (1999), participando depois em filmes de Carlos Braga e Vítor Candeias. O actor faleceu a 20 de Setembro de 2007. Suicidou-se saltando do quinto andar do Hospital de Santa Marta em Lisboa. É hoje, dia 21 de Setembro de 2007, velado na Sociedade Guilherme Cossoul em Lisboa."

A Histórias Contadas lamentam profundamente o desaparecimento do grande amigo, grande homem e grande colega Pedro Alpiarça.
Não há palavras que possam exprimir o que sentimos e as saudades que deixas.
Até amanhã Camarada.